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AUTOR: C.A. Pradoca
Caro Jack, nos últimos dias tenho lembrado uma história, que não sei o porquê, não me sai da cabeça, então resolvi contar...
Filho único, de pais separados, Hugo (nosso herói) teve a sua infância normal. Brincou e brigou nas ruas até a sua adolescência. Sofreu todos os percalços e seduções que uma periferia pobre pôde lhe ofertar. E até curtia os back street boys !!!???.
É verdade!!
Aí veio o colegial, e nesta mesma época, deixou a casa da mãe, que mudou- se de bairro. Ele então foi morar com um tio que tinha apenas uma filha e um quarto extra. Recebido como mais um filho, teve então um ambiente mais estável e seguro, embora o tio fosse um quase “sargento” na forma de conduzir a família. Hugo ficou a vontade por ter liberdades que não tinha quando morava com sua mãe. É realmente todos pensavam: “O garoto está a salvo com o tio brabo... Será?
Passado alguns meses, o “sargento” começou a notar algumas mudanças sutis no comportamento de Hugo. Primeiro uns dois amigos inseparáveis, com umas roupas meio diferentes, bem surradas. E quando dava para ouvir os papos de passagem, as coisas faladas não tinham muito sentido. Depois vieram as músicas que se tornaram constantes. De ‘tears for fears’ e ‘a-ha’ para Sex Pistols, Rancid e Green Day. Como se não bastasse, o tio descobriu uma edição de o "O lixo". Uma cópia mal xerocada de um jornal anarco-punk, daqueles escritos a mão (inclusive os desenhos).
Parecia um embrião tosco de pura anarquia. Mas o tio durão, nascido com os Beatles, e fã psicodélico do Pink Floyd, sabia onde isto poderia dar. Mesmo assim, não interviu, e deixou que o pupilo se embrenhasse pela nave da vida por si. A coisa cresceu e Hugo mudou! Usando coturno, com calças rasgadas no joelho e pulseira de cravos metálicos, ia às reuniões de sua turba.
O tio então quando quis intervir, já era tarde! Pensou então que o sobrinho estava perdido, mas sempre confiava na boa índole do rebelde! Vale salientar que todas estas mudanças não foram suficientes para tirar de Hugo todo amor e respeito por seus tios. Pelo menos dois anos se passaram, e vimos tentativas de auto-suficiência financeira. Do tipo dele sair com aqueles canudos de PVC, com pulseiras “made in quartinho”, para ajudar nas despesas de "O Lixo".
Ele realmente pregava contra a sociedade de consumo. Mas aí, em um belo dia, veio o comunicado: (sentem-se)...
- Tio, vou para o interior estudar agronomia numa escola do governo como interno! (Em regime de internato).
- Como é??
- Vou para o interior estudar agronomia numa escola do governo como interno! (ctrl-c/ctrl-v)
É perto e posso estar em casa nos fins de semana!
- Ha tá, tá bom!

(Ok, Zootecnia é da zona rural e tem a ver com Agronomia)
Em um dialogo meio que surreal, ninguém na sala deu muita importância, embora a cara dele fosse séria.
O tio até pensou: "será que ele está indo aprender como cultivar uma variedade híbrida, de alto teor de THC de baixo custo e alta produtividade?".
O tio até pensou: "será que ele está indo aprender como cultivar uma variedade híbrida, de alto teor de THC de baixo custo e alta produtividade?".
Alguma semanas depois lá se vai nosso herói para a escola!
Nos primeiros dias de adaptação nada de mais. Mas em seguida foi chamado pela Diretora que em tom maternal lhe disse:
Nos primeiros dias de adaptação nada de mais. Mas em seguida foi chamado pela Diretora que em tom maternal lhe disse:
- Hugo, você é um garoto bonito e inteligente. Porquê esta calça toda rasgada e esse cabelo meu filho?
- Sou punk diretora!
- Sim Hugo, de que lhe vale ser isso aí que você falou aqui em nossa escola? Porquê você esta aqui?
E o diálogo terminou!
No outro dia ele cortou o cabelo e costurou a calça. Algum tempo depois, conheceu uma garota, também interna, e nasceu um relacionamento sério.
Em suma, o nosso punk casou-se e mora no interior.
Em quatro anos já tem filho, casa, carro e parabólica.
É Jack, no final toda negação à sociedade de consumo sucumbiu a realidade da nave da vida...
E quem nós somos para negar as pressões das nossas decisões?
Quem nós fomos, o que pensamos e como conduzimos nossa historia é tão... Particular quanto a de nosso heroi.
E parafraseando o Pink Floyd: “Welcome my friend, welcome to machine...”
Bjão Hugo, te amo!
P.S.: E até os dias de hoje ele continua ouvindo Punk Rock!
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AUTOR: C.A. Pradoca